terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A “Balada das mãos”

Ontem Londrina completou 73 anos e teve show de Moacyr Franco na Concha Acústica. Noite tranqüila, sem chuva, noite de uma segunda-feira com jeitão de sábado no Norte do Paraná. E lá fui eu – ver e ouvir Moacyr Franco, que aprendi a admirar desde menino, por minha conta e por conta de minha mãe, que era uma de suas grandes admiradoras.

E foi uma noite inesquecível. Moacyr, em noite sempre inspirada, desfilou uma série de grandes sucessos da sua longa – e proveitosa – carreira, nos fez sorrir e nos fez chorar. Ele bem que tinha avisado que faria isso - em uma entrevista ao “Jornal de Londrina”, que eu tinha lido cedinho, no café da manhã.

Quando ele começou a falar de Garrincha e entoou os versos de “Balada nº 7”, fui à infância e voltei, entre lágrimas, porque Moacyr cantava e contava histórias, como que arrancando do peito de cada um de nós o que mais nos pega de jeito: a saudade de um tempo que já se foi.

E esse tempo – que já se foi – Moacyr Franco soube explorar como poucos. Sua voz se espalhou pelo centro de Londrina, atravessou a catedral e me fez pensar na importância de estar ali, diante dele, como que agradecendo por estar diante de um homem com a sua história, com a sua importância e – muito importante para mim – a sua humildade.

Uma senhora que estava bem à minha frente (dona Nair – eu perguntei o nome a ela), moradora da região do Estádio do Café, me disse que queria muito que ele cantasse sua favorita, “Balada das mãos”:

“Se os teus olhos faltaram um instante da vida,

Se o coração vacilar, retardando a batida,
Se o teu corpo cansado, vencido,
Na estrada comprida,
Na batalha perdida.

Tuas mãos,
Só tuas mãos,
Gêmeas no riso e na dor,
Manterão sempre acesa a luz,
Votiva do amor,
Mãos que se juntam na prece,
Num momento supremo,
Quando no altar duas vidas se juntam também,
Mãos que abençoam o filho
Que parte talvez, para sempre,
E depois vão tecer um casaco de lã
Para o neto que vem,
Mãos que dão lenitivo
Aos que foram vencidos na vida,
Mãos que nunca recusam,
Num gesto o perdão,
Mãos que arrancam das cordas
De um violino nervoso e agitado
A música divina
Que torna todos os homens irmãos.

Mãos que após o silêncio que cai
Sobre a vida que cai,
Juntam o silêncio àquelas que também
Foram mãos.”

Mas Moacyr Franco, autor de centenas de outras músicas e com um roteiro pronto para o show de ontem - compromissos da profissão, afinal de contas -, não cantou “Balada das mãos”. Vi o ar de um pequeno desapontamento nos olhos de dona Nair e vi que ela lembrava minha mãe – e como lembrava minha mãe, que tanto gostava de Moacyr Franco.

E me emocionei com dona Nair. E me emocionei com Moacyr Franco e sua maneira de nos fazer acreditar – cada vez mais – no amanhecer, no dia que vem. Pedi até um beijo a dona Nair e acabei por abraçá-la, como se abraçasse minha própria mãe, que, do céu de Londrina, certamente assistia a tudo com seu grande coração e deve ter ficado muito feliz em me ver ali, sorrindo, chorando, emocionado ao extremo, como há muito eu não ficava.

Obrigado, Moacyr Franco, pela noite de ontem, por momentos tão importantes nesses dias tão difíceis.


Obrigado, dona Nair, pelo beijo no rosto e pelo abraço que eu tanto precisava, ah!, e como precisava. Minha mãe, que me lê lá do céu, sabe disso.

Sua bênção, Moacyr.

Sua bênção, dona Nair.
Sua bênção, dona Letícia.

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