segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O professor e a Educação no Brasil

José Rocha

O Dia do Professor – 15 de outubro – me reservou ouvir um dos discursos mais inteligentes e profundos que já tive oportunidade de ouvir no Senado Federal, através da TV Senado. Tratou-se do discurso do senador Cristovam Buarque, do PDT do Distrito Federal, que deu um show de conhecimento no assunto Educação, tantas vezes ignorado por nossos administradores, por nossos parlamentares, sejam eles municipais, sejam estaduais ou federais.
Cristovam Buarque, um defensor catedrático da Educação, foi claro quando disse que a República, desde Deodoro da Fonseca, não está completa, nem existe como deveria, porque jamais os educadores e estudantes do Brasil foram valorizados – em momento algum, no que concordo inteiramente. Indo além, o genial senador chegou a dizer que a frase em nossa bandeira bem poderia ser “Educação e Progresso”, não “Ordem e Progresso”, no que também concordo, com todas as letras e com o mesmo pensamento.
Com quinhentos anos de atraso, o Brasil conseguiu criar o Piso Nacional do Professor, mas esse piso, ainda que comemorado, equivale a muito pouco diante de muitas outras profissões que não a de professor. O tal piso chega a ser uma miséria se comparado ao de muitos outros setores profissionais brasileiros. E isso acontece quando, como defendeu Cristovam Buarque, o professor deveria ser o melhor preparado de todos os profissionais; quando deveria ser o professor o mais bem pago, porque é ele quem ensina, é ele o mestre – sem o professor, não temos nada.
Há pouco o que comemorar no Dia do Professor, que passou em branco no Congresso e no governo federal, salvo raras exceções, como Cristovam Buarque, ele mesmo um professor, que criticou, com sabedoria, as diferenças de ensino entre ricos e pobres, filhos de eleitos e filhos de eleitores, regiões ricas e pobres, Estados ricos e pobres e por aí adiante.
Que bom é saber – todos os dias – que temos parlamentares com a coragem, a ousadia e a ética – que deveria ser hábito – de um senador como Cristovam Buarque. Mas que pena é também saber, na esteira contrária, que interesses outros ainda atrapalham nosso desenvolvimento educacional. Que ruim é saber que tudo o que todo candidato promete é o imediatismo, quase sempre repetindo o que já está na Constituição e que bastaria sem cumprido, sem promessas cínicas, mentirosas, típicas de períodos eleitorais. E grande parte do nosso povo ainda acredita em promessas. É mais uma prova de que a Educação faz falta, inclusive dentro da política. Porque não temos a Educação como prioridade. Porque nem todo político brasileiro é um Cristovam Buarque. Que pena.

José Rocha é escritor, autor dos livros “Espelho quebrado”, “Batatas fritas ao sol”, “Batatas fritas ao sol II”, “O verbo por quem sofre de verborragia”, “Coração de Leão” e “A lua do meio-dia”.

E-mail: joserocha1960@gmail.com

Nenhum comentário: