quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Um dia assim, sofrido, solitário e triste

Portugal e Finlândia jogaram hoje. Vi na TV “aqui de casa”, como dizia minha mãe, Maria Letícia Rocha de Sousa, sorrindo com o dito de uma velha amiga dela, dos tempos em que a televisão chegou ao Brasil.
Os portugueses venceram por 1 a 0, com um gol sofrido, solitário e triste de Cristiano Ronaldo no segundo tempo. Cá entre nós, Portugal vencer a Finlândia por 1 a 0, com um golzinho no segundo tempo, é mesmo coisa sofrida, solitária e triste. Eu sei que a seleção lusitana não anda lá essas coisas, mas, enfim, a Finlândia é ruim de bola e, como a gente diz no Brasil, “cada macaco no seu galho”.
Se ainda fosse na Fórmula 1, dos finlandeses Keke Rosberg, Mika Hakkinen, Kimi Haikkonen e etecétera, tudo bem, que Portugal, nas pistas, mostrou pouco até agora, e esse até agora já faz é tempo.
Mas e daí que Portugal venceu a Finlândia e que a Finlândia é melhor a 350 por hora do que Portugal entre as quatro linhas? De fato, uma coisa não tem nada a ver com a outra, e ando veementemente sem vontade de ter alguma coisa a ver com a outra. Por isso, ou por nada disso, lembro que, na Fórmula 1, Portugal já teve, por exemplo, Thiago Monteiro, sem o brilho dos “homens de gelo”, é bem verdade, mas teve. Thiago Monteiro. Ponto.
E você me pergunta: e daí, José Rocha de Sousa? E daí? E daí que hoje, dia 11 de fevereiro de 2009, bem longe da minha casa – que fica cá no interior de São Paulo -, morreu meu tio José Monteiro de Sousa – ou Zeca Marques, coisa que nunca entendi, mas isso também não faz o menor sentido, nem tem nada a ver uma coisa com a outra. O que aconteceu – e por isso escrevo - foi que hoje, em Fortaleza, morreu meu tio José Monteiro de Sousa.
Foi na casa dele que fiquei, em 2003, quando fui a Fortaleza para o lançamento do meu livro “Coração de Leão”, que conta, por minha conta, a história do meu Fortaleza Esporte Clube, que não me reconhece, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Ah, o tio José Monteiro de Sousa, que morava ali no Dias Macedo, mas que tinha o coração na Lagoa dos Monteiros, lá no norte do meu querido Estado do Ceará... Soube da morte dele por telefone, depois de colocar umas bananas para amadurecer lá no porão, com Raul Seixas cantando alto (“mas é que tudo acaba onde começou”), no meio do jogo entre Portugal e Finlândia.
Minha prima Maria Cristina me avisou – desde Londrina. “Seu” Zeca, descendente direto dos portugueses Monteiros que encontraram a Lagoa dos Monteiros – no município de Cruz – “partiu hoje fora do combinado”, como bem diz Rolando Boldrin, que ontem mesmo, na TV, vi e ouvi, cantando e contando histórias com o mineiro Lô Borges e a paraense Leila Pinheiro. Zeca Marques “partiu fora do combinado” no finalzinho da tarde. Anoiteceu.
Pois, sim. Os meus Monteiros – pena que não carrego o sobrenome nos documentos – são descendentes dos Monteiros que povoaram esse pedacinho de chão do meu Ceará. Eram portugueses, quem sabe, da Ilha da Madeira, feito Cristiano Ronaldo, que não conheceu meu tio. Mas talvez fossem portugueses, como a família de Espinosa, originários da cidade castelhana de Espinoza de los Monteros – foi dali, afinal, que a família de Baruch de Espinosa fugiu para Portugal, em 1492, mesmo ano da descoberta da América de Colombo, que não era Monteiro.
Pronto. Agora todo mundo entendeu tudo – ou não entendeu nada. Mas, para mim, tanto faz. Ando mesmo, por esses dias, veementemente tanto faz – desde que fevereiro chegou, numa manhã de domingo, e levou minha sogra e amiga Benedicta Correia, velha companheira de minhas histórias, de minhas memórias, que, às vezes, me dão a impressão de vim de um outro tempo, um tempo que já não existe, que virou lembrança.
Hoje, um Monteiro virou estrela. Hoje, no céu do meu Ceará, José Monteiro de Sousa deixou mais bonita a noite enluarada desta quarta-feira, a noite bordada entre os cajueiros, ali perto, bem perto do mar – o mar dos Monteiros.
O Caminho de Santiago, que se espalha de um ponto a outro do céu, ganhou mais uma estrela: “Seu” Zeca. Uma bela estrela: uma estrela bem brasileira, com sotaque, sim, senhor, e com essa alma luso-brasileira em um dia assim, sofrido, solitário e triste, todas as nossas almas luso-brasileiras parecem, sem nem parecer, um golzinho sofrido, solitário e triste de nosso Portugal na TV “daqui de casa” – mesmo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra.

José Rocha (Monteiro) de Sousa, filho de Manoel Monteiro de Sousa, que era irmão de José Monteiro de Sousa
11 de fevereiro de 2009

Nota do autor: Leia mais no site da Lagoa dos Monteiros. Clique aqui para acessar o site da Lagoa dos Monteiros.

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