No dia 14 de março, comemorou-se o Dia Nacional da Poesia. Mas comemoramos o quê? As editoras ignoram solenemente a poesia. A data é apenas uma efeméride que algum parlamentar inventou – a intenção é boa, mas sou poeta todos os dias – por escolha própria - e pouco me importa que o dia 14 de março seja o Dia Nacional da Poesia. Seria melhor que o dia 14 de março fosse o Dia Nacional da Hipocrisia – pelo menos seria uma rima, embora não fosse uma solução.
A poesia, no Brasil, é o se pode chamar de um gênero amaldiçoado pelo mercado editorial. Para a maioria das editoras brasileiras, a poesia é mesmo uma maldição (“não vende”, dizem os editores), embora o mesmo Brasil que ignora seus poetas tenha, em sua história, recente ou não, Mário de Andrade, Carlos Drummond, Cecília Meireles, Paulo Leminski, José Paulo Paes, Manoel de Barros, Ferreira Gullar e uma infinidade de grandes poetas.
O brasileiro não tem o hábito de ler. O brasileiro não tem o hábito de comprar livros. São fatos. E a poesia, coitada, ela, da qual vivo - ou onde vivo - não tem o valor literário-mercadológico das obras em prosa – livros de auto-ajuda, para mim, não contam, porque os ignoro solenemente: são absolutamente inúteis, afinal de contas.
Mas Manoel de Barros, poeta lá do Mato Grosso, do alto de seus mais de 90 anos, diz que a poesia também é inútil. É verdade. E de inutilidades vamos levando a vida. É uma pena que seja assim.
Entre todas as editoras que conheço, a única que aceita analisar livros originais de novos poetas é a L&PM, de Porto Alegre. Lá, o editor Raimundo Gadelha, uma espécie de Quixote (graças a Deus!) da poesia brasileira, recebe originais de poetas – mas olhe o tamanho desse país: uma única editora trata a poesia com o merecido respeito. É pouco. É quase nada. Ou é nada.
Essa tal de Lei Rouanet, que já usei, é algo muitas vezes inalcançável. Ela – a Lei Rouanet – é, sim, boa para a difusão de cultura como um todo, mas haja burocracia no Ministério da Cultura! Não existe um ministro que entre lá e popularize a coisa. É tudo truncado mesmo, fechado, com a palavra burocracia ditando as regras, e não há nenhuma voz que se levante para mudar as coisas. Eu seria hipócrita o suficiente se não dissesse que sem a popularização da Lei Rouanet, sem a desburocratização de muitas outras leis pais afora, não vamos a lugar algum.
O Brasil não se preocupa com a cultura – quanto mais com a poesia. Os Estados não têm o menor interesse em fazer da cultura algo menos burocrático e mais popular. E os municípios? Ah, os municípios brasileiros... São raros os casos em que há uma lei de incentivo fiscal à cultura, e em todas as esferas: federal, estadual, municipal. Cultura não dá voto. Povo culto é povo inteligente. Povo culto, inteligente, não se submete.É por isso que nós, os Quixotes, existimos. É por isso que nós, os Quixotes, não desistimos de nada e seguimos em frente. E é por isso que muito se faz em termos de cultura nesse Brasil: porque tem gente que não tem medo de entrar na chuva e se molhar. É assim. Porque se ficarmos esperando cair de governos, seja lá qual for, morremos. Tem que ir à luta mesmo. E eu estou nela. Faz tempo. E a batalha é longa. Já o dia 14 de março, ah, é outra história.
segunda-feira, 16 de março de 2009
A “maldição” da poesia
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