segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O (mal) exemplo de Serra

José Rocha

Fico impressionado com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que, de olho nas eleições de 2010 (já que quer ser presidente da República), não apoiou o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin (outro eventual candidato), e subiu no palanque de Gilberto Kassab, o todo poderoso do DEM (que já foi e continua sendo o velho PFL). É bom lembrar que, quando Serra era candidato a prefeito da Capital, não dividia o palanque com Kassab, seu vice, que assumiu porque Serra eleito, não cumpriu a palavra nem o mandato; mostrou-se, em todos esses aspectos, um homem de várias caras, cujo interesse obstinado é apenas ser presidente da República. Serra come e bebe essa obstinação, passando por cima de quem lhe vier pela frente. A vítima (conformada, por obedecer ao comando do partido, e, por isso, ser ético ou submisso), foi Alckmin.
Serra, que conheci pessoalmente nos tempos de Covas, tem pela frente, antes de ser candidato, o governador de Minas, Aécio Neves, também do PSDB, que não mostrou, nessas eleições, a mesma força de transferência de voto que se imaginava dele – ele tem, afinal de contas, uma força muito grande no ninho tucano e uma aprovação de fazer inveja. Do mesmo modo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a aprovação recorde que tem, não conseguiu transferir – pelo menos como queria – seu carisma para muitos candidatos de seu partido, o PT, e de sua base, esfacelada por interesses partidários nas eleições de daqui a dois anos. E por falar em Lula, quem será o nome indicado por ele para sua sucessão? Dilma ou até o vice-presidente, José Alencar, como aventou o analista político Carlos Chagas, segundo ele numa eventual chapa com Lula de vice? A Constituição permite essa dobradinha. Mas duvido que essa dobradinha aconteça. E a conversa do terceiro mandato? É esperar para ver.
Não acredito, hoje, que Alckmin tenha força suficiente para obter o apoio do PSDB – e da eterna sombra, o DEM-PFL – visando ser ele o candidato. José Serra, incoerente, obcecado pelo poder, sai fortalecido – mais que Aécio Neves - diante de um Alckmin bem comportado e mais obediente que um cão labrador. Um Serra nada ético – e que tem a mania de não cumprir mandatos – consegue se sobressair diante de um Alckmin quase ingênuo – mas ele não é ingênuo. O que me parece é que o PSDB começa a dar os passos para 2010 dividido, rachado, como se diz no jargão político. Enquanto isso, o PT não tem um nome do peso de Lula – ou que pelo menos se aproxime do peso dele – para a sua sucessão. Dilma não tem essa força. O senador Eduardo Suplicy, tido como candidato ao governo do Estado, que poderia ser um bom nome, até porque ele circula bem entre todas as tendências representadas no Congresso Nacional, não tem o apoio do grupo majoritário do PT. Isso quer dizer que o nome do PT para a sucessão de Lula, se existe, é um mistério guardado, mas o próprio Lula, se emplacar a história do terceiro mandato, pode ser esse nome – não acredito que José Alencar, com sua saúde frágil, vá encarar uma maratona de tal porte. E Marta Suplicy, com mais essa derrota, se afundou de vez e está fora de qualquer páreo.
Muita água vai rolar daqui até as definições de quem serão os presidenciáveis para 2010, não esquecendo aqui as eleições parlamentares – para deputado estadual e deputado federal, que promete ser, com a falta de ética de nossos políticos, o que em minha terra chamamos de “saco de gatos”. Um amigo, um dia desses, veio à minha casa e me disse que o melhor candidato a presidente seria o senador Cristovam Buarque, do PDT, porque é ele o único a defender a Educação – com sobras. Meu amigo não deixa de ter razão, porque o Brasil só será um grande país quando a Educação for, de fato, prioridade. A nossa República só estará completa, como bem disse Cristovam, dias atrás, com a Educação em primeiro lugar. É esperar e sonharmos com um país melhor, quem sabe mais educado, inclusive politicamente, sem seguir o exemplo de Serra, é claro.

José Rocha é escritor, autor dos livros “Espelho quebrado”, “Batatas fritas ao sol”, “Batatas fritas ao sol II”, “O verbo por quem sofre de verborragia”, “Coração de Leão” e “A lua do meio-dia”.

E-mail: joserocha1960gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Zé!

Que bom te rever. E ter ler!
Estava com muitas saudades. Mas como diz o ditado,quem procura, acha!

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Raquel Duarte, jornalista
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